Mulheres do jornal Quilombo

Quantidade de vezes que mulheres negras apareceram no jornal Quilombo

Desconsiderando as imagens em que apareciam figuras femininas, mas que se enquadravam como propagandas, existem 110 produções imagéticas.

Dentro do total de 110 fotografias com figuras femininas, em 90 delas aparecem mulheres negras. Nessas imagens, as mulheres negras estão sozinhas ou acompanhadas por homens, crianças, idosos e mulheres brancas. Ainda, cinco dessas 90 fotografias estão duplicadas, isto é, aparecem duas vezes na mesma edição.

Em 48 das 90 fotografias em que aparecem mulheres negras, há a presença de pelo menos um homem na imagem e em 22 fotografias elas aparecem sozinhas. Destas 22 fotografias, em 11 delas, as mulheres negras ocupam lugar de destaque no jornal. Como fotografia de destaque consideram-se imagens em que as mulheres negras aparecem sozinhas e que sejam acima do tamanho grande, ocupando mais de meia página do jornal.

Nas 110 produções imagéticas que retratam figuras femininas, as mulheres brancas aparecem em 14 fotografias. Dessas 14, em seis elas aparecem junto com mulheres negras. Somente em três fotografias as mulheres brancas aparecem sozinhas.

CATTY SILVA, VENCEDORA DO CONCURSO DE BELEZA “BONECA DE PIXE”.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 9, mai. 1950, p. 1).

Catty Silva

Catty Silva foi a vencedora do concurso de beleza “Boneca de Pixe” de 1950. Na edição 9 do jornal, havia o artigo “Catty, a ‘Boneca de Pixe’ de 1950”. Nele, além de detalhar a cobertura da festa de coroação, o editor explicou a finalidade do evento. No jornal consta que: “o certame, tendo a finalidade de promover a valorização social da mulher de cor não poderia se ater apenas à beleza física das candidatas, tendo sido exigido também qualidades morais, predicados de inteligência, requisitos de graça e elegância” (QUILOMBO, n. 9, mai. 1950, p. 6).

Eseza Makumbi

Eseza Makumbi era uma atriz ugandense. Atuou como coadjuvante no filme londrino denominado de “Atavismo”, que foi lançado em 1946 e produzido por Joseph Arthur Rank. Sua trama retrata uma história iniciada no continente africano. No final de 1949, o filme estreou no Brasil. Na edição de número 3, ainda havia a expectativa, entre os ativistas brasileiros, de que o negro não seria retrato de forma pitoresca nesse filme. Porém, na coluna “Cinema” da edição número 6 de fevereiro de 1950, consta uma resenha crítica, de autoria desconhecida, sobre o filme e a atuação de Makumbi.

A atriz foi premiada pela Associação Brasileira dos Críticos de Cinema (ABCC) e seu desempenho foi exaltado. No entanto, o jornal teceu fortes julgamentos ao filme, salientando que havia forte propaganda imperialista britânica. Além disso, a coluna destacou que o filme ridicularizava as crenças africanas, demonstrando ignorância sobre os costumes e práticas religiosas da população africana. Ao longo das 10 edições, a fotografia de Makumbi aparece 3 vezes (sendo que uma delas é repetição da fotografia de capa da edição 3 em tamanho muito pequeno) e relaciona-se diretamente com o filme “Atavismo”.

FOTOGRAFIA DE CAPA COM A ATRIZ ESEZA MAKUMBI, DO FILME “ATAVISMO”.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 3, jun. 1949, p. 1 e 3).
ADVOGADA E ATIVISTA, GUIOMAR FERREIRA DE MATOS, PARTICIPANDO DA CONFERÊNCIA NACIONAL DO NEGRO.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 2, mai. 1949, p. 2).

Guiomar Ferreira de Mattos

No I Congresso do Negro Brasileiro de 1950 apresentou o texto “A regulamentação da profissão de doméstica”.

Analisando livros produzidos acerca da população negra, Guiomar publicou o artigo “O preconceito nos livros infantis” em 1954 na Revista Forma nº 4 e em 1966 ele é inserido no livro “Teatro Experimental do Negro: testemunhos”. Sobre esse texto escrito pela ativista, Ana Célia pontua que “Guiomar introduz um tema que só na década de setenta passa a ser preocupação dos pesquisadores da academia” (SILVA, 2011, p. 117), demonstrando o vanguardismo da advogada ao denunciar as formas de racismo simbólico e a ausência de representatividade.

Josephine Baker

Josephine Baker foi uma bailarina estadunidense, naturalizada como francesa.

Estimulava outros artistas negros e chegou a patrocinar estreias de artistas em início de carreira. Tida como propulsionadora do modernismo na dança, foi aclamada por intelectuais brancos e ativistas negros. Baker esteve no Brasil em 1929.

Petrônio Domingues, em um artigo que aborda sua trajetória, destaca que “A ‘Vênus Negra’ era festejada pela imprensa dos "homens de cor" por ter conquistado Paris, cidade tida como a mais civilizada, culta e moderna da Belle Époque” (DOMINGUES, 2010, p. 106).

FOTOGRAFIA DE CAPA COM A BAILARINA JOSEPHINE BAKER.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 6, fev. 1950, p. 1).
FOTOGRAFIA DE CAPA DA BAILARINA KATHERINE DUNHAM.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 10, jun./jul. 1950, p. 1).

Katherine Dunham

Dunham é considerada a precursora da dança negra moderna na América, marcando o rompimento com o classicismo europeu vigente até aquele momento.

Junto com a companhia “The Katherine Dunham School of Arts and Research”, fundada em 1933 em Chicago, Dunham veio ao Brasil e apresentou-se no Rio de Janeiro e em São Paulo. A performatividade do seu grupo também se constituía como um ato de afirmação da cultura afro-americana. Dunham é considerada a precursora da dança negra moderna na América, marcando o rompimento com o classicismo europeu vigente até aquele momento. Ministrou a aula inaugural do balé infantil do TEN, junto com a presença de Maria Nascimento.

Durante sua passagem pela cidade de São Paulo, por discriminação racial, foi impedida de se hospedar no Hotel Esplanada, conhecido na época como o “hotel das celebridades” e muito frequentado por estadunidenses. O caso repercutiu na imprensa internacional e levantou um debate sobre a questão da discriminação racial. A situação culminou na lei nº 1.390, promulgada por Getúlio Vargas em 3 de julho de 1951. Essa legislação representou uma vitória para a comunidade negra. Além de ser a primeira norma contra a discriminação racial no Brasil, a articulação em torno de sua aprovação conseguiu criar uma congregação nacional que visava combater o racismo.

Maria Nascimento

Maria Nascimento era assistente social e atuou no Serviço de Assistência Social da Guanabara, defendendo a população negra.

Coordenando diversas atividades dentro Teatro Experimental do Negro, era instrutora de psicodrama; articulou o Conselho Nacional de Mulheres Negras e a Associação das Empregadas Domésticas; e “criou também um balé infantil, cuja aula inaugural foi ministrada pela famosa bailarina afro-americana Katherine Dunham” (SILVA, 2010, p. 32).

No jornal Quilombo, era responsável pela coluna “Fala a mulher”.

MOMENTO DE UMA FALA DE MARIA NASCIMENTO, NO ATO DO “CONSELHO NACIONAL DAS MULHERES NEGRAS”.FONTE: adaptado de Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 9, mai. 1950, p. 4).
FOTOGRAFIA DE CAPA DA BAILARINA MERCEDES BAPTISTA. FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 7-8, abr. 1950, p. 1).

Mercedes Baptista

Mercedes Baptista foi a primeira bailarina negra a compor o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mantendo as atividades no teatro, ela integrou à militância do TEN, em busca de uma identidade afrobrasileira. Mestiça e filha de uma empregada doméstica, formou-se em balé clássico. Apresentou-se para plateias compostas por intelectuais como Albert Camus, como destacado pelo jornal “Quilombo”.

Mercedes Baptista também ganhou o concurso “Rainha das Mulatas” em 1948, e no mesmo ano ganhou uma bolsa de estudos junto da companhia de Katherine Dunham, composta somente por negros, nos Estados Unidos. Ao retornar, Mercedes fundou um balé afro-brasileiro, intitulado de “Ballet Folclórico” em 1953.

Philippa Schuyler

Philippa Schuyler era pianista. No jornal, consta que aos sete anos, Philippa já “[...] se apresentava no auditório da Feira Mundial de Nova York” (QUILOMBO, n. 5, jan. 1950, p. 2). Ela também chegou a se apresentar no Carnegie Hall e em vários outros espaços imponentes, porém por ser parda, sofreu muitos embargos. Ela era filha de Josephine Schuyler, uma mulher branca, e de George Schuyler, escritor e ativista negro. Na mesma edição, onde sua filha aparece como destaque de capa, Schuyler traz uma colaboração ao jornal como correspondente, na coluna “Arquivo”.

FOTOGRAFIA DE CAPA COM A ARTISTA PHILIPPA SCHUYLER.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 5, jan. 1950, p. 1 e 2).
FOTOGRAFIA DE CAPA COM A ATRIZ RUTH DE SOUZA.FONTE: Jornal “Quilombo” (QUILOMBO, n. 4, jul. 1949, p. 1 e 3).

Ruth de Souza

Ruth de Souza chegou a trabalhar como empregada doméstica, mas consolidou-se na carreira cinematográfica. Sua carreira de atriz iniciou dentro do TEN em 1945. Maria Angela de Jesus, no livro “Ruth de Souza: estrela Negra”, realizou sua biografia. Em um depoimento contido no livro, a atriz disse que na sua infância as pessoas lhe diziam: “Imagina! Olha, o que ela quer! Ela quer ser artista! Não tem artista negra, como é que ela quer ser artista?!” (JESUS, 2007, p. 30).